Olá amigos da Dance Music! Estamos aqui nesse espaço novamente para homenagear mais um importante artista do nosso mais amado gênero musical... E digo mais, pode passar 10, 20, 30, 40 anos...mas seguiremos fãs inveterados do estilo!
Hoje falaremos brevemente sobre uma cantora que é mais que especial: GALA RIZZATTO!!
Atenção: Toda pesquisa, entrevista e texto digitado abaixo pertencem à Rikardo Rocha. Caso você ver este conteúdo em algum site, fórum, youtube, ou qualquer outra plataforma, saiba que foi copiado daqui. O dono do blog não autoriza o compartilhamento das informações postadas abaixo sem o seu consentimento. Para maiores informações, clique aqui.
-RIKARDO ROCHA
A primeira vez que tive o privilégio de ouvir a voz da Gala foi no início de 1997, quando o DJ tocou uma música sua numa festinha (que rolou na Escola Gandra - Jundiaí-SP). Era a fenomenal "Freed From Desire" (1996), que tomou de assalto todas as rádios e clubs do Brasil nos meses seguintes.
Nesse momento de absorção, achei aquela sonoridade interessantíssima, e assim como a revista DJ Sound descreveu na coluna 'Dance Floor', me remeteu muito ao estilo de cantar de Eartha Kitt - "Where's My Man", que havia se consagrado nas pistas uns 2 anos antes:
Gala Rizzatto é o nome dessa famosa cantora que nasceu na metrópole moderna da Itália - Milão, no dia 06 de Setembro de 1975. Com apenas 16 anos ela rodou pela Europa estudando os diversos tipos de culturas, como fazendo dança flamenca na Espanha e fotografia em Londres; mas foi voltando à Itália que ela recebeu o seu verdadeiro chamado da vida: fazer música.
Devido ao curso de fotografia que fez em Londres (se especializando ainda em Nova York), a bela milanesa de olhos azuis passou a atuar como uma fotógrafa profissional, até que conheceu uma dupla de produtores mais que prestigiada e talentosa... E o resultado disso, todos vocês já sabem...
Esses músicos eram ninguém mais que DJ Molella e Phil Jay, que trabalharam com a vocalista em 1995 na empolgante "Everyone Has Inside". Sim, esse na verdade foi o primeiro single oficial da Gala:
Muitos fãs de eurodance (das antigas) se perguntam: "Mas, espera aí... essa música não é de 1997?"
Então meus amigos, originalmente "Everyone Has Inside" é de 1995 e foi lançada inicialmente apenas na Itália... Mas quando "Freed From Desire" bombou no mundo todo, então a tal canção "incompreendida" ganhou um relançamento mundial em 1997. Foi uma estratégia bem pensada, afinal, agora Gala era um fenômeno no mundo todo... portanto, havia também uma nova chance de mostrar o potencial de "Everyone Has Inside" ao público, agora mais maleável e rendido ao sucesso de Gala.
Consequentemente a isso, a gravadora Paradoxx resgatou para nós essa primeira gravação da artista, tornando-se bastante tocada em 1997, ao lado de "Freed From Desire" e "Let A Boy Cry" - que pensávamos ser antecessoras de "Everyone Has Inside".
A própria Gala disse à DJ Sound, na edição de Nº77 - Junho de 1997:
"Minha aventura começou em 1995, quando DJ Molella e Phil Jay me apresentaram uma produção que faltava apenas a inserção de vocais. A música era 'Everyone Has Inside' e foi lançada pelo selo Nitelite", Gala relembrou isso numa época que a música citada nem era ainda muito conhecida no Brasil, apenas conhecíamos "Freed From Desire" e "Let A Boy Cry" (sua nova arrasa-quarteirões).
Gala ainda concluiu: "Na verdade tudo começou quando Molella me encontrou num estúdio fotográfico, onde fui procurada para fazer apenas o trabalho de fotos para a capa do seu álbum que ele estaria lançando na Itália: 'Originale+Radicale+Musicale'. De um papo informal veio o convite...e topei a experiência".
Gala - que só iria fazer o trabalho visual - acabou gravando a primeira faixa desse disco de Molella, intitulada como "XS". Confira esse resultado:
Esse álbum de Molella teve a produção da maravilhosa Time Records, e contava ainda com o mago Giacomo Maiolini - como produtor executivo. Reparem na linha de teclados e em toda a sua produção que nos lembram outros singles da casa, como "Burning Up" da também italiana Taleesa, uma faixa lançada no mesmo ano. É exatamente a mesma equipe que trabalhou por trás do som popular da Taleesa, como a conhecidíssima dupla Giuliano Sacchetto e Giuliano Trivelatto.
"XS" e "Everyone Has Inside" foram as primeiras gravações de Gala, embora só a última conseguiu algum sucesso mundial. Seu single solo "Everyone Has Inside" também marcou por ser a primeira produção do selo Nitelite, e em seu vinil consta o enunciado: "Deixe-me apresentar à vocês a primeira produção da Nitelite!".
Acho trágico que, na época, poucos deram o devido valor para a música, mesmo ela sendo ótima e promissora. O que faltou para "Everyone Has Inside" fazer o merecido sucesso e obter a aceitação que conseguiu dois anos depois? Teria sido, a cantora Gala, subestimada pela indústria por ser uma artista novata?
A parceria da cantora com Molella e Phil Jay apenas se consagraria de vez em 1996, com o lançamento do single seguinte: "Freed From Desire". Gala ainda se mostrou uma ótima compositora nesse novo trabalho, que a propósito, explodiu nos charts mundiais rapidamente.
"Freed From Desire" saiu em single em junho de 1996 e atingiu o topo das paradas da Itália, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Alemanha, Grécia e, claro, no Brasil.
No instagram, Gala falou a respeito da capa do vinil deste seu primeiro grande sucesso: "Eu estava estudando fotografia na Tisch School Of The Arts em NY, esse foi um autorretrato que eu mesma fiz. O filme teve apenas 16 fotos! Escolhi esta foto para ser a capa do single, porque, por acaso, o policial saiu nela e olhou para a câmera ..." - Gala Rizzatto (Fonte: Instagram oficial da Gala)
Por aqui, a versão de "Freed From Desire" que saiu nas coletâneas e que tocou nas rádios entre a "playboyzada" era a avassaladora "The Soundlovers Remix", que possui batidas extremamente fortes e uma atmosfera especial que só vai crescendo, e de repente, quando parece que vai morrer… entra novamente o beat e o baixo... Que delírio! Para mim é a melhor versão! (embora eu também goste da que está no vídeo oficial)
Até hoje, "Freed From Desire" é uma das músicas mais lembradas da carreira da Gala, e muito tocada nos estádios de futebol como aconteceu na "Copa do Mundo" de 2018, onde eu me deparei com uma grande torcida vibrando ao som do hit em plena TV Globo (Gala sempre se orgulha disso e publica em suas redes sociais).
Na verdade, os brasileiros não tem muito a dimensão dessa grandiosidade, mas "Freed From Desire" virou um verdadeiro hino na Europa, tão grande e popular que não só toca nos estádios de futebol, como nas paradas LGBTQI+, nas marchas pelos direitos feministas, protestos contra a violência, passeatas... Enfim, não existe um público definido, apenas vibram em vários eventos. Eu vejo que há muitas músicas específicas para determinadas comunidades, mas "Freed From Desire" vai além e abrange a todos, não é destinada apenas para um nicho... Simplesmente funciona para vários grupos! É o poder de uma música que já chegou ao seu 25º aniversário e que continua emocionando mais que muitos lançamentos por aí...
"DEIXE O MENINO CHORAR"
Eis que em janeiro de 1997, é lançada na Itália uma de suas mais queridas canções: "Let A Boy Cry". Sem trocadilhos, mas essa é realmente de fazer chorar! Que produção fantástica... Minha favorita da Gala, onde ela mais uma vez ataca de compositora!
Este seu 3º single tornou-se uma nova sensação nas danceterias e rádios de todo o Brasil ainda no 1º semestre de 1997, embora seu furor permaneceu resistente até o final deste ano.
Na época, Gala ainda descreveu um pouco essa sua obra e tentou passar o seu significado... Leia mais abaixo:
"A melodia um pouco mais lenta e até melancólica traduz um pouco do que penso na educação dos meninos e meninas. Esse negócio de que meninos não podem chorar é uma estupidez. A emoção tem que estar viva no indivíduo desde a infância". - Gala Rizzatto (Fonte: Revista DJ Sound Nº 80)
Gala co-dirigiu o video de "Let A Boy Cry" em 1996, com Philippe Antonello. Esse belo registro ainda teve uma colaboração muito importante, a do diretor de fotografia Luca Bigazzi, que obteve o seu reconhecimento no filme vencedor do Oscar "A Grande Beleza", de 2013 (Melhor Filme Estrangeiro).
No video, Gala introduz alguns temas que são polêmicos hoje em dia, imaginem então como não foi confuso para quem assistia a MTV, nos anos 90? Temas como binário, não binário e queer, hoje "estão na moda" e super discutidos no twitter ou facebook, mas Gala entregou isso para a sociedade lá em 1996, antes de qualquer pessoa pública se arriscar a falar sobre. Segundo ela, na época era obcecada por esses assuntos e tentou se expressar sobre os papéis de gênero que ela via na sociedade. Gala diz ainda que até hoje recebe mensagens de diversas pessoas do mundo, que dizem que "Let A Boy Cry" mudou suas vidas. Sem dúvidas, uma mulher a frente de nosso tempo.
É meus queridos, nesse começo de carreira da Gala, já sentíamos algo de diferente emergindo sobre essa grandiosa vocalista-compositora. Existiam diversos projetos na Dance Music, mas ali existia uma verdadeira artista e conseguíamos distinguir isso naturalmente, sem muitas explicações.
Gala não era descartável como muitos nomes da cena Dance, que apenas preenchiam diversas coletâneas de CDs. Isso era notório... até quem era pré-adolescente e não entendia muito do assunto, conseguia captar todo esse seu diferencial.
Gala gostava de passar uma mensagem ao público, de mostrar concepções, ideias e de atingir a faculdade intelectiva das pessoas em seus trabalhos musicais. Gala não queria ser apenas mais um mero produto da indústria.
A nova estrela da Dance Music ainda deixava claro que gostava da discrição, que o importante não era ter uma vida badalada e cheia de luxos... Seu objetivo estava longe de ser apenas uma imagem atraente (embora fosse, e ainda é, muito bonita). Gala se preocupava em apresentar alguma mensagem ao seu público, e isso bastava para ela.
"Tome como exemplo, na Itália, quase ninguém me reconhece nas ruas, mesmo com os clipes... Neste mercado, a massificação do visual não é tão importante para mim. É até indiferente, pois mesmo sem uma imagem estabelecida acho que já estou escrevendo o meu nome em parte da história." - Gala Rizzatto (Fonte: Revista DJ Sound - Nº 80)
Então os amantes da Dance Music começaram a traduzir melhor essa fascinante figura, e perceberam ainda que o modo de pensar da cantora era totalmente o oposto dos produtores, que sempre prezaram pela imagem em seus projetos. Vejam só, casos de produtos pré-fabricados e forjados, como Whigfield, Corona, Randy Bush, Technotronic, Fun Factory... Gala era completamente o oposto dessa turma toda, e creio que se sentia até um peixe fora d'água quando retratada como uma "cantora de eurodance".
Sobre a música "Freed From Desire", ela disse à revista DJ Sound (Nº 80 - Setembro de 1997) que as pessoas nem se importaram com a mensagem que ela quis passar:
"As pessoas no estúdio nem ligaram para a mensagem da letra de 'Freed From Desire'. O que importava para elas era apenas a sonoridade da palavra 'desire' (desejo). Mas na letra, ao contrário do que possa parecer, já que é muito frequente na Dance Music, não falo do desejo físico ou pessoal, mas do crescente desejo de posse que as pessoas tem na nossa sociedade. Percebo que, quanto mais coisas possuímos na vida, mais queremos possuir... Daí a importância de ser feliz com o estritamente necessário. É um pensamento budista, algo que estudei muito. Tudo que escrevo, aliás, vem das minhas leituras. Adoro poesias e biografias. Quando se ouve ou se dança 'Freed From Desire', sem prestar atenção na letra, pode-se pensar que se trata de uma canção ‘Dance’ como outra qualquer." - Gala Rizzatto (Fonte: Revista DJ Sound Nº 80)
Creio também que, a partir daí Gala percebeu que a Dance Music não combinava muito com o seu estilo de fazer arte, pois é um gênero conhecido mais por fazer as pessoas dançarem, e não por fazê-las pensar / refletir. E as pessoas, incluindo os produtores, não estavam preocupadas com nenhuma mensagem.
Gala sempre foi muito silenciosa em sua vida privada, então isso na época colaborou ainda com o surgimento de alguns boatos no show-business...
Diante da ascensão de suas músicas, e da sua característica de não se expor, muitos jornalistas começaram a acreditar que a Gala havia...falecido! Tudo isso porque a cantora quase não falava nem com a equipe de sua gravadora, e para piorar, foi anunciada a morte de uma mulher que trabalhava no setor do entretenimento... e adivinhem... Ela também se chamava Gala!
Os fãs desesperados começaram a pedir por informações à Do It Yourself (gravadora da cantora), mas quem havia falecido, na verdade, era uma apresentadora da MTV nos EUA...
E além de ser inteligente, talentosa e bonita, Gala também era conhecida, nessa época, por ser uma pessoa "durona" e complicada de se conviver. No instagram e nas entrevistas ela parece ser bem diferente e gentil, mas a revista DJ Sound ainda escreveu: "Seus produtores contam que seu temperamento é díficil de lidar e que a mesma já abandonou algumas vezes o estúdio, irritada por mínimos detalhes."
Eita...eu me recuso a acreditar nisso. Gala, para mim, é só luz!
Nessa altura do campeonato, Gala também era muito cobrada para oferecer um álbum completo com todas as suas canções, então ela sempre falava que o material iria sair na hora certa, e que não estava preocupada com a rapidez do seu lançamento, mas sim com a qualidade dele.
Gala, no meu ponto de vista inicial, tinha tudo para ser uma cantora de estúdio assim como tantas outras vocalistas do gênero 'dance', tais como Jenny B, Annerley Gordon, Melody Castelari, Sandra Chambers... pois elas simplesmente se sentiam mais confortáveis nos estúdios e não faziam questão de estar sob os holofotes. A única diferença de Gala com essas outras artistas, é que não a vejo sendo controlada por nenhum produtor e nem sendo remunerada para cantar qualquer coisa que lhe pedirem. Gala quer exprimir a sua verdadeira arte, não terceirizá-la... Imaginem só, por exemplo, alguém colocando uma modelo para dublar as músicas da Gala (??). Acho que ela jamais aceitaria isso.
"Me considero uma business girl, tanto é que a direção do vídeo de "Let A Boy Cry" ficou ao meu cargo. Não estou preocupada apenas com o dinheiro que venha a ganhar. Meu sonho é financiar a minha música, gravar, viajar e encontrar as pessoas pelo mundo afora. Desde pequena sempre tive muita cabeça no lugar para guardar o meu dinheiro. Não vai ser agora que isso vai mudar". - Gala Rizzatto (Fonte: Revista DJ Sound - Nº 80)
Nessa metade de 1997, Gala já era um nome forte na Dance Music em todo o mundo e se destacava muito ao lado do Techno, vertente que crescia assustadoramente na cena dançante. Inclusive, o nome da italiana figurava entre os artistas mais importantes do movimento, como o Prodigy, Chemical Brothers e Orbital.
Diante dessa imensa popularidade, o selo Nitelite resolveu então relançar aquele seu single esquecido de 1995, e adivinhem, conseguiu atingir o público em diversos países! "Everyone Has Inside" saiu aqui pela Paradoxx Music (assim como os hits anteriores da Gala) e foi muito tocada nos clubs e rádios (aqui em São Paulo, pelo menos, eu sei que foi!). Você também poderá encontrar essa faixa no CD "As 7 Melhores Vol.7".
Mais tarde, é anunciado um novo single - "Come Into My Life" (1997), que já chegou assumindo os primeiros lugares nas listas de rádios e clubs mundiais. Acredito que esse foi o maior ápice da artista aqui no Brasil, quando a música tocava em todas as rádios, casas noturnas, era ouvida nos carros, festas de aniversário, na casa do vizinho... Um fenômeno! Não havia uma pessoa que não conhecia e não cantarolasse o refrão melancólico: "Come, come, come into my life, come, come, stay with me, Nobody loves me, nobody loves me enough , Enough to save me, oh no!"
A forma como esse hit fluía em nossas mentes era absurda!!!
"Come Into My Life" ainda foi uma das músicas mais tocadas na Jovem Pan durante o ano todo de 1997 - só perdendo para uma outra dance-star italiana que também explodiu no mesmo ano: "Uh la la la" de Alexia.
Aliás, em entrevista para a DJ Sound (edição Nº 76), Alexia citou que Blackwood e Gala eram as artistas iniciantes da Dance Music que ela gostava de ouvir.
O single de "Come Into My Life" atingiu excelentes posições nos charts mundiais, principalmente na Espanha e Itália, onde assumiu o nº 1 nesses países.
O videoclipe de "Come Into My Life" foi lançado e pudemos visualizar uma vibe sinistra, mas encantadora ao mesmo tempo. Não era comum aquela temática na Dance Music de rádio, com certeza nos clipes do Prodigy, ou em alguma banda de rock... mas na Dance Music comercial? Era novidade!
Mas no geral esse visual dark atraiu o público, que aprovou o resultado. O video foi popularmente conhecido no Brasil devido ao seu adicionamento na VHS "TV Dance Vol.3", via Paradoxx Music.
Gala disse ainda que “Come Into My Life” é baseada em sua primeira viagem à Espanha, quando era uma garotinha no banco de trás do carro de seus pais à noite. Ela lembra que nesse passeio "a lua permanecia constante no céu e parecia seguir o passeio". Já o vídeo foi filmado em um castelo na Itália e com vários dançarinos profissionais de flamenco (tipo de dança que a cantora parece saber dominar muito bem).
Enfim, já eram tantas faixas conhecidas da Gala, que o esperado álbum da cantora tinha que sair logo... ninguém se aguentava mais de tanta ansiedade... Então, isso finalmente se concretizou!!
É LANÇADO O ÁLBUM "COME INTO MY LIFE"
Lembro-me que era dezembro de 1997, quando entrei num hiper-mercado chamado Pão de Açúcar (que nem existe mais) para dar uma olhada nas prateleiras dos CDs e conferir as novidades (antes de ir à escola, que era no mesmo percurso)…Foi quando me deparei com este álbum chamado "Come Into My Life" e com uma capa totalmente diferente da que eu esperava.
Fiquei louco com o que estava vendo, afinal era o mais aguardado CD do ano... Não pensei duas vezes e comprei-o no ato. Não queria pensar em perder aquela oportunidade, né? Vai que no dia seguinte, aquelas unidades estivessem esgotadas?
Recentemente, Gala até postou em seu instagram dizendo que os executivos da Do It Yourself alteraram a capa desse álbum (lançado na França), pois eles não entenderam o conceito da imagem que ela criou...mas, eu confesso que também não gostei muito dessa arte (naquele momento), pois esperava ver algo mais atraente e que remetesse a beleza da artista em seu álbum de estreia... Aqueles "dedos suados e de unhas sujas", para mim, não representavam a cantora. Eu estava acostumado, até então, com um outro tipo de concepção, então, definitivamente eu não havia compreendido aquela imagem.
O conteúdo do disco e suas faixas? Olha, eu também posso dizer que não gostei muito (em 1997). Não parecia ser um CD de dance music, e isso me decepcionou. Tem o fato triste da música "Everyone Has Inside" ter ficado de fora também... Achei um tremendo desperdício, ainda mais para um álbum que só tinha 11 faixas.
Gala justificou na época, dizendo que "Everyone Has Inside" foi concebida em um outro momento de sua vida, e que a faixa não fazia parte da mesma vibração dos outros frutos, então, achou melhor não misturar o trabalho de 1995 com os demais.
Outra frustração que tive, era em relação ao ritmo das músicas. Com a exceção de "Keep The Secret", "Dance Or Die" (e dos singles já conhecidos), achei a maioria das faixas muito lentas, tanto é que uma das versões de "Freed From Desire" (que está neste álbum) se chama "slow version". Achava-a muito depressiva e nada a ver com aquela Gala que havia escutado na festinha da escola.
Atualmente eu posso dizer que consegui entender a essência desse trabalho, assim como sinto toda a entrega, interpretação e originalidade de Gala Rizzatto em seu 1º disco de inéditas, mas admito que só fiquei fã da cantora por conta dessa sua parceria com os mestres Molella e Phil Jay. Acho que foi uma excelente colaboração entre o trio, que soube mesclar perfeitamente todos os seus talentos em produções que são grandes referências até hoje.
Sobre a faixa "Suddenly", virou o 4º single de trabalho da Gala em janeiro de 1998. Nem preciso dizer que a canção se consagrou nas pistas de dança e em diversas rádios brasileiras... Foi também uma das faixas da coletânea "As 7 Melhores Vol. 8" da Jovem Pan.
É interessante mencionar também que, quando surgiu em 1995, Gala não atraiu tanta atenção do público e dos demais artistas da Dance Music, mas quando explodiu no cenário musical com pedradas alucinantes como "Freed From Desire", "Let A Boy Cry", "Come Into My Life" e "Suddenly", foi elogiada e influenciou diversos veteranos da cena. Por exemplo, em sua primeira experiência num estúdio de gravação - na música "XS" (Molella) - percebemos que a produção lembra até a popular "Burning Up" de Taleesa, mas em 1997, quando Gala estava no ponto máximo de sua carreira, Taleesa ressurgiu com "You And Me" e fazendo agora os papéis se inverterem pois a sonoridade é tão influenciada por Gala, que mais parece uma cópia da novata que a Taleesa estaria fazendo.
Outros variados projetos também surgiram “surfando na onda” de Gala, como exemplo Fidaleo - "Play With My Body" (na voz da australiana Michelle), tivemos ainda a mudança de estilo do projeto Chase ("Obsession" e "Stay With Me"), General Base trouxe um vocal bem "Gala" em "On & On", entre muitos outros.
Gala, infelizmente, nunca veio ao Brasil na década de 90. Se tivesse vindo, com certeza iria arrebatar multidões, justamente porque o seu sucesso com o público jovem brasileiro sempre foi intenso, tipo "selvagem" mesmo. O jovem dos anos 90 sabia que Gala era um sinônimo da nova Dance Music, cena que ela moldou com maestria no final daquela década. Ouvir os hits da Gala era estar antenado com a última tendência dos clubs, era ser cool, descolado, era ter o privilégio de sentir o frescor e a exclusividade em primeira mão.
A cantora só veio ao Brasil em 2010 e 2011, e ainda assim conseguiu atrair um bom número de fãs, mesmo depois de mais de uma década longe das paradas de sucesso. Confesso que eu só fiquei sabendo desses shows por volta de 2012, infelizmente...
Há um tempo atrás até escrevi uma mensagem para a cantora, que respondeu-me dizendo que adoraria voltar ao Brasil, e que fazer shows em São Paulo e Rio de Janeiro foi uma experiência única, já que o público foi muito receptivo e caloroso. Numa entrevista muito detalhada e interessante ao site Gay Blog BR, a artista também voltou a elogiar os brasileiros:
"Os melhores. Em todas as conversas que tenho sobre os shows que fiz, conto que o melhor público que eu já tive foi no Brasil. As pessoas aí não brincam quando o assunto é diversão. Elas suam, gritam, dançam, vivem. Elas amam. Lembro que no Rio, em uma boate pequena, e em São Paulo, no Sambódromo, as pessoas sabiam todas as letras das minhas músicas e gritavam com vontade, sem pudor. Eu detesto aquele tipo de público que não se diverte e fica preocupado com a própria aparência para as outras pessoas ao redor. Gosto quando as pessoas perdem o controle, no bom sentido. A vida é curta. A música é uma celebração. O Brasil sabe disso." (Fonte: Gay Blog BR)
O último hit da Gala nas rádios e pistas brasileiras foi "Suddenly", que estreou em janeiro de 1998 e foi muito tocada durante o 1º semestre do ano. Infelizmente não ganhou um videoclipe...
No ano de 1998, a Paradoxx Music ainda lançou uma compilação chamada "Gala Remixes", que até ganhou uma propaganda muito veiculada na TV. Algumas dessas versões novas ganharam destaques nas pistas, como “Freed From Desire '98”.
Depois disso, Gala conheceu o gerente de produções Steven Fargnoli, e saiu da Do It Yourself com a intenção de fazer algo mais ligado à sua identidade musical, ou seja, nada de eurodance ou de músicas que não pudesse expressar suas mensagens.
Tudo parecia que ia dar certo para a Gala nessa sua nova jornada, pois este manager trabalhava com artistas conceituais como Prince e Sinead O' Connor, que faziam um trabalho nivelar ao que Gala gostaria de apresentar. Acontece que, Steven Fargnoli acabou falecendo em setembro de 2001, então os projetos que Gala sonhara nunca foram concretizados.
Gala só conseguiu lançar um trabalho novo em 2005: "Faraway", pela EMI e Matriach Records, esta última, a sua própria gravadora.
A partir de sua gravadora independente, lançou também o seu EP "Tough Love" de 2009, contendo 5 faixas e mais uma versão do hit "Freed From Desire".
Em 2012 Gala trabalhou em seu single "Lose Yourself In Me", depois lançou "Taste Of Me" (2013 / 2014), "The Beautiful" (2014), e também duas trilhas sonoras de um filme chamado "Favola": "Nameless Love" (2018) e "Happiest Day of My Life" (2018).
Atualmente, Gala vive entre a Itália e EUA, e é praticamente uma artista independente. O som que ela produz está mais para um pop sofisticado, e às vezes, nos surpreende com algum som bem dançante como "Lose Yourself In Me", "Taste Of Me" e "The Beautiful". E é lógico, ela continua prezando bem pela qualidade em seus trabalhos.
A colaboração da cantora com os produtores da Dance Music deram à ela a chance de seus singles se espalharem pelos clubs do mundo todo e, assim, se tornarem famosos... o que não vimos mais acontecer desde o fim da década de 90, quando a cantora rompeu com os mestres da italo-dance. Embora a artista apresente algum remix - uma vez ou outra - sabemos também que não é a mesma coisa.
Quem vê alguma foto atual dela, percebe também que Gala não mudou muito fisicamente nos últimos 25 anos. Continua bela, inteligente, com os seus mesmos ideais e muito fiel a si própria. Aliás, Gala, ao meu ver, é um ser humano evoluído em todos os sentidos e que sempre soube o que queria (desde pequena).
Esperamos que essa grande artista possa realizar todos os seus SONHOS e "DESEJOS" artísticos, e que um dia volte a nos visitar para que possamos cantar e dançar juntos os seus maiores hits dos anos 90. Foi muito bom ouvi-la nos night-clubs, nas rádios e nos CD’s... mas gostaríamos também de vê-la mais vezes aqui, em cima de nossos palcos!
VALEU GALA, por ajudar a transformar os nossos anos 90 mais estimulantes e vitoriosos!!
NA-NA-NA-NA...